Por que sonhamos? Saiba o que a ciência e a história têm a dizer
As teorias para explicar o que são as experiência oníricas só ganharam impulso a partir dos anos 1950. Desde então, as pesquisas avançaram.
Definir o que é um sonho não é tarefa fácil. Simplificando, é aquilo que você vê e escuta enquanto dorme. No livro "A Interpretação dos Sonhos", o criador da psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939), argumentou que os sonhos são mensagens do inconsciente sobre os desejos reprimidos. Já Carl Jung (1875-1961), colega de Freud que contestou muitas de suas ideias, sugeriu que os sonhos tinham uma finalidade: seriam uma tentativa da própria consciência para regular e compensar situações vividas.
Os sonhos ficaram no imaginário de diversos pensadores por muito tempo, mas foi somente nos anos 1950 que o processo onírico ganhou mais análises científicas, impulsionadas pela descoberta do sono REM (sigla para rapid eye movement, ou movimento rápido dos olhos) por pesquisadores da Universidade de Chicago. É nessa fase que a atividade cerebral está mais agitada, ocasionando os sonhos mais vívidos.
A partir desse avanço, surgiram mais hipóteses para a função dos sonhos. A mais difundida é que eles servem para a consolidação de memórias. “No sono, revivemos o que aconteceu no dia, associando com experiências passadas”, diz Gabriel Pires, médico e pesquisador do Instituto do Sono. “Mas há uma discussão teórica sobre o que é exatamente o sonho: o evento fisiológico do processamento de memória ou a percepção dele?”
Para o neurocientista Sidarta Ribeiro, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, autor do recém-lançado "O Oráculo da Noite" (Companhia das Letras), os sonhos são um aprendizado “lento e gradual que provavelmente começa no útero materno, com a formação das primeiras representações sensoriais na fronteira do corpo com o mundo exterior”.
A história do sonho
Acredita-se que a história do sonho seja paralela à da presença de vida na Terra. “Os sonhos evoluíram depois de um longo processo de desenvolvimento do sono, ainda no início da vida multicelular”, aponta Sidarta Ribeiro.
Registros históricos mostram que as civilizações mais antigas já os interpretavam como ensinamentos de antepassados ou profecias. É o caso da história que envolve a morte do imperador romano Júlio César: sua esposa, Calpúrnia, teria relatado um sonho com o assassinato do marido um dia antes do acontecido, no ano de 44 a.C. “Essa era a ferramenta que os humanos tinham para tentar prever o futuro”, comenta Ribeiro. “Sonhos são reflexo do passado, mas, ao mesmo tempo, aquilo que de fato poderia acontecer no futuro.”
Mas a ciência não consegue dizer o porquê de cada elemento, como preza o conhecimento popular. “Não existe nenhum diagnóstico clínico que pode atribuir significado ao sonho”, destaca Gabriel Pires.