SC é considerado estado referência em prevenção de desastres naturais

Após cerca de 150 mortes e R$ 9,2 bilhões perdidos em tragédia de 2008, estado montou centro de gerenciamento de riscos.

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SC é considerado estado referência em prevenção de desastres naturais

O estado de Santa Catarina é assolado por grandes enchentes e inundações há décadas, como em 1974, 1983, 1984, 1997. Em 2004, um furacão atingiu o estado, deixando mais de 500 feridos e 11 mortos. Os fatos fizeram com que o estado ficasse conhecido como o corredor de desastres.

Uma das áreas mais afetadas, historicamente, é a Bacia Hidrográfica do Itajaí, é lá que está Blumenau, epicentro da tragédia em 2008.

No entanto, no desastre de 2008, além das mortes, os impactos econômicos também foram inéditos – segundo o Banco Mundial, o estado perdeu R$ 9,2 bilhões [em valores corrigidos].

Hoje, Santa Catarina é vista como referência no monitoramento e prevenção de desastres por especialistas como Leandro Casagrande, engenheiro responsável pelo monitoramento hidrológico do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Carlos Tucci, professor emérito do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH/UFRGS), e Rafael Schadeck, pesquisador do Ceped (Centro de Estudos e Pesquisas em Engenharia e Defesa Civil) da Universidade Federal de Santa Catarina.

Dados do Atlas de Desastres, organizado pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, mostram que, nos últimos 15 anos (2009 a 2023), Santa Catarina representou 6% do total das mortes do país em desastres. Nos 15 anos anteriores (94 a 2008), esse número era de 16%.

O que mudou na prevenção de tragédias

As mudanças fundamentais na melhoria na prevenção de desastres em Santa Catarina foram:

  • Investimento em monitoramento com transmissão de dados em tempo real;
  • Alinhamento efetivo com os municípios de protocolos de ação em casos de desastres;
  • Elevação da Defesa Civil ao primeiro escalão do governo (no estado, desde 2023, ela tem status de secretaria, e não um órgão subordinado a alguma).

Após a tragédia de 2008, o estado criou um comitê científico, que reuniu governo, universidades e a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA).

Após três anos de estudo, em 2011, o relatório final apontou, entre outras coisas, a necessidade de criação de um centro de monitoramento e alerta – embrião do que viria a ser, quase uma década depois e ao custo de R$ 21 milhões, o Centro Integrado de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cigerd), que tem sede em Florianópolis e 20 unidades regionais espalhadas pelo estado.

Lá, minuto a minuto, meteorologistas, hidrólogos, geógrafos e outros especialistas acompanham imagens de satélite, monitoram rios, fazem cálculos e projetam cenários para o estado.

A estrutura do centro foi inspirada no de Tóquio, no Japão, contou o secretário da Proteção e Defesa Civil do estado.

O órgão é abastecido por dados de quatro radares meteorológicos, comprados por R$ 33 milhões, que cobrem todo o território de Santa Catarina e conseguem identificar formações de nuvens antes mesmo de chegarem ao estado – quando ainda estão no Rio Grande do Sul, no Paraná ou na Argentina (segundo o secretário de Estado da Proteção e Defesa Civil, Santa Catarina é o único estado do país com 100% de cobertura territorial por esses radares.)

Também chegam ao Cigerd os dados de monitoramento dos rios. O estado tem 1,8 mil estações hidrológicas, 8% das 23 mil existentes no Brasil, e 25% delas enviam dados em tempo real.

 O número de pontos de monitoramento do estado ainda não é o suficiente, admite o secretário. “Para nós, que precisamos ficar monitorando o tempo inteiro para atualizar, para alertas, eu preciso ter o dado em tempo real. O manual, para alerta de desastre, não serviria”, diz Souza. Nas estações manuais, um observador precisa ir ao local anotar os dados registrados pelo equipamento.

 Na Bacia do Itajaí, palco dos maiores desastres naturais do estado, o governo investiu em uma rede própria de monitoramento, com 42 estações com transmissão de dados em tempo real. Além disso, todas possuem câmeras, painel solar e baterias.

 “Se caso acontecer alguma coisa com o sensor, de ele perder contato ou estragar no meio de um evento [climático], a gente ainda consegue ver pela câmera a régua posicionada [que mede o nível do rio]”, conta Dieyson Pelinson, hidrólogo da Coordenadoria de monitoramento e alertas da Defesa Civil.

 Durante as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em abril e maio, estações de monitoramento do Rio Taquari foram arrancadas, impedindo saber, por exemplo, a qual altura ele chegou em algumas áreas do estado.

 Atuação alinhada com as prefeituras

Foi do Cigerd que saíram os dados que permitiram a Prefeitura de Rio do Sul alertar a população no dia 26 de maio. Além de SMS enviado pelo estado, a administração municipal ligou para famílias em risco publicou o aviso em suas redes sociais e fez alertas em grupos de WhatsApp.

Essas informações também robustecem o AlertaBlu, criado em 2014 pela Prefeitura de Blumenau para alertar a população a partir de uma rede própria de monitoramento. A cidade tem hoje 59 pontos de abrigo definidos.

O secretário ressalta que não é o centro tecnológico que mais diferencia o estado, mas o alinhamento de protocolos de ação com os municípios.

Fonte:

Fonte G1

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