Saiba novos detalhes do caso de pai que matou filho de 6 anos com tiro na cabeça em SC
Mulher pediu medida protetiva para o filho, mas não recebeu decisão a tempo.
O homem que matou o próprio filho de seis anos em Palhoça na última quinta-feira (6) teria se negado a entregá-lo para a mãe da criança dois dias antes, estaria extorquindo o sogro e deteria um depósito de armas em casa. Os fatos aparecem em um boletim de ocorrência registrado pela mulher junto à Polícia Civil na terça (4), quando teve concedida uma medida protetiva a si e seus familiares contra o agressor. Ela também buscou proteção expressa ao menino por um pedido não foi analisado a tempo pela Justiça.
Na antevéspera do crime, conforme relatou à Polícia Civil, a mulher havia acabado de optar pelo fim do relacionamento com o agressor, com o qual era casada há 14 anos, e tentou buscar o menino na casa em que moravam. No entanto, o pai não permitiu a saída do filho, nem a entrada dela na residência.
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A mãe chegou a acionar a Polícia Militar, que também não convenceu o homem a ceder. Ele aceitou apenas levar alguns pertences dela até o portão do local, quando ela foi embora sem poder levar a criança, também segundo a própria mulher disse para a Polícia Civil.
Ainda no boletim de ocorrência, ao qual o NSC Total teve acesso, consta que a mulher optou pela separação após ter descoberto que o seu pai estaria sendo alvo de extorsão do agressor, que exigia valores absurdos do sogro para pagar dívidas com agiotas.
Além disso, ela relatou que o então ex-marido tinha registro de CAC (a permissão concedida pelo Exército aos civis colecionadores, atiradores desportivos e caçadores para terem acesso a armas de fogo legalmente), contava com várias armas escondidas em casa e era competidor de tiro.
Ele também já teria tido comportamentos agressivos e de ciúmes excessivo com ela. A mulher relatou ter sido ameaçada e proibida pelo ex-marido de ver amigos. Além disso, ela afirmou, em depoimento preliminar, que não via o filho em segurança devido à relação conflituosa do homem com agiotas.
Justiça concedeu medida protetiva para a mulher
O boletim foi registrado às 18h16 da terça. A Polícia Civil encaminhou, então, à Justiça solicitação de medida protetiva com urgência para que proibisse o homem de se aproximar da mulher, dos familiares dela e das testemunhas do caso, em documento também obtido pela reportagem.
Às 20h09 daquele mesmo dia, o Poder Judiciário concedeu, em regime de plantão, uma medida que proibia então o agressor de “manter qualquer forma de contato com a vítima [ex-mulher] e seus familiares, devendo manter distância superior a 500 metros”.
Na decisão, a Justiça reconhece estar ciente do teor de todos os fatos relatados no boletim de ocorrência. O despacho não impunha proibições ao agressor, no entanto, que fizessem menção expressa à criança e às armas.
Mãe tentou proteção para o filho, mas não teve retorno a tempo
Na quinta, a mulher entrou com um novo pedido na Justiça, conforme a própria comarca de Palhoça revelou em nota à imprensa, para que o homem também tivesse sua posse de armas suspensa, fosse afastado de domicílios em que ela e a criança estivessem, fosse proibido de se aproximar também do filho e não pudesse visitá-lo. Naquela ocasião, o menino ainda estava sob a guarda do pai.
No entanto, antes que esse segundo pedido fosse eventualmente acatado pela Justiça, acionada com urgência pela mãe, o homem matou o filho com um tiro e depois tirou a própria vida.
A comarca de Palhoça comunicou que o pedido em análise foi impulsionado de forma célere, apesar do desfecho do caso. Ainda afirmou que, na ocasião da medida que chegou a ser concedida, as autoridades sequer encontraram o homem no endereço relatado no processo para comunicá-lo do despacho.
“Pontua-se, ademais, que no depoimento da vítima prestado à Autoridade Policial [Polícia Civil], ela declarou que após a separação o filho ficou com o pai, que nunca havia feito nada contra a criança, nem mesmo bateu no menor, ressaltando que era um pai tranquilo, o que revela que a conduta extrema atribuída ao imputado não era previsível”, escreveu a comarca de Palhoça em nota à imprensa.
A Polícia Civil comunicou, também por escrito, que instaurou um inquérito para apurar o ocorrido e que, por se tratar de vítima menor de idade, tratará do caso sob sigilo.