Produtora de Joaçaba realiza projeto de cineclube que irá exibir e debater cinema gratuito em Caçador e Lebon Régis

Cineclube itinerante tem sessão de abertura no dia 02 de setembro e seguirá com mais de 30 sessões em escolas e comunidades do Contestado.

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Produtora de Joaçaba realiza projeto de cineclube que irá exibir e debater cinema gratuito em Caçador e Lebon Régis

O Cine Raízes surge no sertão contestado de Santa Catarina com a realização de mais de 30 sessões de cinema presenciais, seguidas de debates e atividades de formação em bairros periféricos das cidades de Caçador e Lebon Régis. A programação exibirá filmes de ficção, documentário, experimental e videoclipes produzidos em várias regiões do país.

Contemplado pelo Prêmio Catarinense de Cinema – Edição Especial Lei Paulo Gustavo/2023, com apoio da Associação Amigos do Museu do Contestado, Ombu produção e Pupilo Play – o projeto nasceu da necessidade de criar um espaço de reflexão e diálogo nas comunidades periféricas do oeste catarinense, visando democratizar o acesso ao cinema e ao fazer cultural.

A sessão de abertura “Transcestralidade em retomada”, ocorrerá no dia 02 de setembro, às 19h30 no Cine Lúmine Caçador, com os filmes listados abaixo e após as exibições, apresentação da peça teatral “Raízes de Aiyê”.

Filmes que serão exibidos:

“Cadê o rio?!” – Coletivo Manivas

3:31 min | videoclipe

Cena do videoclipe “Cadê o rio?!” – Foto: Divulgação
Cena do videoclipe “Cadê o rio?!” – Foto: Divulgação

Diga ao povo que avance” – Evelyn Freitas

15 min | documentário

Cena do filme “Diga ao povo que avance” de Evelyn Freitas – Foto: Divulgação
Cena do filme “Diga ao povo que avance” de Evelyn Freitas – Foto: Divulgação

“São Luis – Havana” - Criolina e Celso Borges

5:17 min | videoclipe

Cena do videoclipe “São Luis, Havana” – Foto: Divulgação
Cena do videoclipe “São Luis, Havana” – Foto: Divulgação

“Raízes de Aiyê” – Direção Julia Schardong Veiga. Dramaturgia coletiva.

60 min | peça teatral

Espetáculo Raízes de Aiyê - Crédito Divulgação
Espetáculo Raízes de Aiyê - Crédito Divulgação

Um território existencial

A ideia norteadora do Cine Raízes é de Elias de Lima Lisboa, jovem artista que se declara como pessoa preta, afro-indígena Kaingang e caboclo, residente na região do contestado em Caçador no meio oeste de Santa Catarina, mais especificamente na Vila Usina, uma comunidade próxima ao Rio do Peixe, onde há pouco recurso estrutural, obrigando os moradores a viverem a luz de velas, geradores ou luz solar, e em constante luta para acessar direitos fundamentais – como a cultura – em um território marcado por agressões históricas e recentes. O jovem entrou em contato com a produção em cinema a partir de seu filme Vila Usina (2021) onde registra e documenta esta realidade.

Elias de Lima Lisboa – Fonte: Aqruivo/Divulgação
Elias de Lima Lisboa – Fonte: Aqruivo/Divulgação

Para Elias, a identidade cultural das pessoas é profundamente ligada ao território que elas ocupam. “A partir de quando eu me reconheci como uma pessoa preta, como um artista, eu comecei a entender que o lugar que eu ocupo, o território que eu ocupo, que é a Vila Usina, faz parte da minha identidade. E hoje a Vila Usina ocupa um território urbano, por consequência de que o meu território ancestral foi tomado de mim, então, a partir disso surgiu o projeto, que é, para mim, uma forma de retomada. Uma forma da retomada dessa identidade. E uma retomada desse território”

Sobre ser uma raiz

O nome Cine Raízes reflete a conexão espiritual, ancestral e cultural das comunidades com um bem coletivo que é seu território. Carrega consigo um significado que traduz a essência dessa relação, enraizada na identidade e na vivência dos habitantes locais. “Por  baixo da camada de terra, as plantas se entrelaçam, criam conexões pra se comunicarem, pra manterem os espaços em que habitam em equilíbrio, sempre vivo, e assim o Cine Raízes leva essa ideia de conexão do contestado com o brasil, com nosso território ancestral, através de nossas raízes que são diversas.” Afirma Elias.

Devidamente chamado de sertão catarinense, o oeste do estado não habita o imaginário cultural brasileiro com suas batalhas históricas, não foi retratado nos “sertões” de Canudos ou nos “grandes sertões” épicos e experimentais. Mas é justamente nesse infinito território de significados e alegorias, psicológico, simbólico e metafísico, que de maneira muito própria, o sertão catarinense faz parte e se relaciona com o Brasil profundo.

Recebendo filmes de todo país, Caçador e Lebon Régis, são cidades localizadas na região oeste de Santa Catarina, região que foi palco da Guerra do Contestado, um conflito que iniciou em 1912. A guerra deixou um legado na região, que se reflete na formação das periferias da cidade, na desigualdade social, nos altos índices de pobreza, no apagamento histórico e identitário dessa população. “Quando eu falo do Contestado, eu sempre acabo indo para um lugar que é o imaginário existencial. E aí sempre acabo saindo um pouco do físico, né? A guerra faz parte, mas o Contestado hoje, para mim, é a Vila Usina e as comunidades que estamos levando esse projeto.” Elias ressalta a importância em deixar claro que o contestado é uma guerra que permanece. “Podemos colocar que o conflito armado teve seu "fim" em 1916, porque eu vejo que a guerra mesmo não acabou, ainda estamos lutando pelo território, pelo direito à terra, como dizem meus parentes indígenas, hoje nos matam com canetas”.

Um dos aspectos mais importantes do Cine Raízes, é a inclusão dessas comunidades no processo de produção cultural. Elias destaca que muitos moradores das áreas periféricas não têm conhecimento sobre os recursos públicos disponíveis para desenvolver projetos culturais. “Quando falamos do audiovisual, estamos falando dos meios de produção que usamos para produzi-lo”.

Um caminho

Além das exibições, o Cine Raízes terá atividades de oficinas de produção audiovisual, debates e palestras sobre cinema e cultura, as sessões também promoverão o júri popular para que o público possa votar em três categorias em que os filmes concorrerão. Elias espera que, por meio dessas ações, os participantes se reconheçam nas histórias contadas nos filmes e se sintam encorajados a contar suas próprias histórias. “Eu vejo o Cine Raízes como... como um caminho, um caminho que essa raiz pode fazer para conectar esses bairros à identidade dessas pessoas que existem dentro desses lugares.”, conclui.

A cultura é viva e o Cine Raízes é uma celebração da existência, resistência e transformação desses espaços imaginários e sensíveis do Oeste contestado de Santa Catarina.

Na tela do Contestado

O projeto recebeu quase 500 inscrições de filmes, destes foram selecionados 20 filmes que serão exibidos em sessões entre o segundo semestre deste ano e o primeiro semestre do próximo. Ao todo serão 10 escolas atendidas e 10 comunidades.

A curadoria, assinada pelo cineasta Yasser González e Elias de Lima, foi realizada pensando na relação dos filmes com as temáticas escolhidas e como dialogam com os eixos temáticos do cineclube.

A programação completa das sessões e ações formativas, estão disponíveis no Instagram do projeto @cineraizes_.

Serviço.

O que: Sessão de abertura do Cine Raízes.

Quando: 02 de setembro.

Onde: Cine Lúmine Caçador -Rua Onio Pedrassani, 645 – Centro, Caçador – SC

Horário: 19:30

Sessão de abertura - Transcestralidade em retomada:

“Cadê o rio?!”

3:31 min | videoclipe

“Diga ao povo que avance”

15 min | documentário

“São Luis – Havana”

5:17 min | videoclipe

“Raízes de Aiyê”

60 min | peça teatral

Gratuito / Livre / Acessível

Mais informações: @cineraizes_

Fotos: fotos_release_1

Fonte:

Assessoria de Imprensa

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