Parque Natural Municipal do Vale do Rio do Peixe: Um Tesouro da Biodiversidade em Risco

Parque em Joaçaba tem árvores com mais de 300 anos e fauna e flora exuberantes. Revogação de lei de proteção preocupa pesquisadores.

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Araucaria angustifolia multicentenária no Parque Natural Municipal do Vale do Rio do Peixe.
Araucaria angustifolia multicentenária no Parque Natural Municipal do Vale do Rio do Peixe.

O Parque Natural Municipal do Vale do Rio do Peixe, localizado na cidade de Joaçaba, é um importante remanescente florestal da Mata Atlântica que abriga uma rica biodiversidade de plantas e animais. Além disso, o parque desempenha um papel fundamental na proteção das encostas e na conservação de nascentes e banhados.

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Técnica da Argentina (CONICET-Mendoza) estão desenvolvendo um estudo de dendrocronologia no parque. A pesquisa é financiada pelo Instituto Interamericano de Pesquisa sobre Mudanças Globais (IAI) e PAGES (Past Global Changes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Segundo o pesquisador Lidio López (CONICET-Mendoza), "A dendrocronologia é uma ciência fascinante que nos permite desvendar os segredos das árvores através dos seus anéis de crescimento. Esses anéis são formados a cada ano, como páginas de um livro que registram a idade da árvore e as condições ambientais às quais ela foi submetida ao longo de sua vida. Através do estudo desses anéis, podemos obter informações valiosas sobre o clima, a disponibilidade de água e até mesmo sobre eventos extremos que possam ter afetado o crescimento da árvore. É como se as árvores fossem testemunhas silenciosas da história do nosso planeta, e a dendrocronologia nos dá a chave para decifrar essa linguagem única da natureza."

Através de métodos não destrutivos, os pesquisadores dataram uma árvore multicentenária de araucária (Araucaria angustifolia) com mais de 300 anos de idade, sendo provavelmente uma das últimas árvores longevas da região. Além disso, outras pesquisas do grupo revelaram a presença de cedros (Cedrela fissilis) centenários no local.


Coleta não destrutiva e dos anéis de crescimento
Coleta não destrutiva e dos anéis de crescimento

De acordo com a pesquisadora Cláudia Fontana (USP-ESALQ), “O Parque Natural Municipal do Vale do Rio do Peixe não é apenas um refúgio para a biodiversidade, mas também desempenha um papel fundamental na manutenção dos serviços ecossistêmicos. As florestas do parque atuam como verdadeiros guardiões das encostas, prevenindo a erosão e os deslizamentos de terra. Além disso, essas áreas preservadas são essenciais para a conservação das nascentes e dos banhados, que agem como esponjas naturais, absorvendo e armazenando a água da chuva. Esses reservatórios naturais são cruciais para a regulação do ciclo hidrológico, garantindo a disponibilidade de água para a região, especialmente em períodos de estiagem. A proteção do parque não só contribui para a preservação da biodiversidade, mas também assegura a manutenção desses serviços ecossistêmicos vitais para o bem-estar das comunidades locais e para a resiliência do meio ambiente diante das mudanças climáticas."

Estudos anteriores, desenvolvidos pelo pesquisador Mario Arthur Favretto (UFSC), demostraram que o parque é um remanescente florestal estratégico para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica. Conforme esses estudos, na área do parque foram catalogadas mais de 130 espécies de aves, das quais 40% dependem da estrutura florestal. Além das aves, o parque possui muitas espécies de anfíbios e mamíferos como cutia, capivara, cachorro-do-mato, gato-do-mato e tamanduá-mirim. A diversidade de orquídeas e bromélias apontada pelos estudos para o local também merece destaque.

Em 2002, a Lei Municipal Nº 2.800 criou o Parque Natural Municipal do Vale do Rio do Peixe como uma unidade de conservação de proteção integral, com área de 286 hectares, seguindo as diretrizes da Lei Federal do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). No entanto, em 2017, a Lei Nº 5127 revogou a proteção do parque, colocando em risco esse importante ecossistema.

A revogação da lei que protegia o parque é preocupante, especialmente diante dos recentes desastres ambientais ocorridos no estado vizinho do Rio Grande do Sul. As cheias e inundações, consideradas consequências das mudanças climáticas e do mau planejamento do uso e ocupação do solo, evidenciam a importância de preservar áreas naturais como o Parque Natural Municipal do Vale do Rio do Peixe.

O pesquisador Marcelo Scipione (UFSC-Curitibanos), faz um apelo: "É imprescindível que a sociedade e as autoridades estejam cientes da importância imensurável do Parque Natural Municipal do Vale do Rio do Peixe, um dos últimos remanescentes florestais nativos da Mata Atlântica na região. Medidas concretas devem ser tomadas para garantir a proteção desse patrimônio natural, antes que seja tarde demais. A conservação da biodiversidade única do parque, a manutenção dos serviços ecossistêmicos que ele proporciona e a preservação das árvores centenárias que ali habitam são responsabilidades que não podemos negligenciar. É hora de agirmos e demonstrarmos nosso compromisso com a proteção desse patrimônio natural, pois a perda desse ecossistema seria irreparável."

Além do acesso a um valioso acervo de registros multicentenários presentes nos anéis de crescimento das árvores e desenvolvimento de outras pesquisas que mostram a riqueza da fauna e flora local, o parque oferece uma excelente oportunidade para a educação ambiental, permitindo que estudantes e visitantes aprendam sobre a importância da conservação da natureza e os benefícios dos ecossistemas preservados. Nesse contexto, é fundamental pressionar os governantes para que restabeleçam a proteção legal desse tesouro natural. 

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