Médico é indiciado por lesões graves em procedimentos estéticos em SC
Paciente procurou a Polícia Civil relatando que teve queimaduras, bolhas, necrose e perda de tecido após se submeter a 12 procedimentos.
Um cirurgião de Florianópolis foi indiciado por lesão corporal gravíssima contra uma paciente. Trata-se de Marcelo Evandro dos Santos. Ele acumula mais de 37 mil seguidores em uma única rede social, afirma já ter feito mais de 15 mil cirurgias, e se descreve como referência em procedimentos nas mamas, abdome e lipo UGRAFT, chamada por ele mesmo de "lipo de definição".
O médico foi indiciado após uma paciente procurar a Polícia Civil relatando que teve queimaduras, bolhas, necrose e perda de tecido após se submeter a 12 procedimentos. Em nota, Marcelo Evandro dos Santos disse que sempre priorizou a saúde e o bem-estar dos pacientes, "prestando o atendimento mais personalizado e humano possível" (leia posição na íntegra mais abaixo).
Além do indiciamento da Polícia Civil, na segunda-feira (14), o médico é alvo de um procedimento de investigação do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). A apuração não se restringe a uma pessoa, mas à atuação do cirurgião.
Contra ele, também já foram movidos pelo menos sete processos de indenização por dano moral, e quatro vítimas conseguiram a condenação dele. Em 2021, ele foi condenado a indenizar a família de uma paciente do Paraná que morreu após uma lipoaspiração, em 2021 (veja mais abaixo).
Marcelo é membro do Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e, segundo a ficha dele no órgão, possui ao menos 30 especializações, que vão de implantes faciais a lipoaspiração, abdominoplastia e liftings diversos.
Ele também integra a Society of Aestgetic Plástico Surgery (ISAPS) e a Associação Brasileira de Cirurgiões Plásticos (BAPS). O g1 buscou contato com os três órgãos, mas não teve retorno até as 19h50 de terça-feira (15).
Em uma rede social, Marcelo acumula mais de 37 mil seguidores em um perfil que tem conteúdo restrito apenas para quem o segue. Lá ele afirma ser uma referência procedimentos em mamas, abdome e lipo UGRAFT.
Já em uma conta profissional, ele se define como um "eterno apaixonado pela cirurgia plástica em todas as suas formas e nuances." Ele atende em uma área nobre de Florianópolis, mas também tem consultório em Itajaí, no Litoral Norte de Santa Catarina, conforme a plataforma.
Denúncia
A paciente que denunciou o médico após passar por 12 cirurgias e ter reações, foi a neuropsicopedagoga Letícia Mello. Ela fez a primeira consulta em janeiro deste ano, interessada em trocar as próteses de silicone e saber mais sobre uma técnica de lipoaspiração. O médico também indicou outros procedimentos.
“Disse que poderia tirar a flacidez da barriga. Logo em seguida já tocou no meio das minhas pernas, falou que também poderia ser possível tirar essa flacidez que a academia não tira, e que eu tinha uma depressão lateral" contou.
Segundo ela, Marcelo ainda indicou tirar gordura das costas para colocar na depressão lateral, o que deixaria o glúteo mais redondo."Eu fui para procurar um procedimento, acabei sendo encantada por vários outros. Não fui avisada dos riscos que teriam, da quantidade de horas e procedimentos", relatou a paciente.
Letícia passou por 12 cirurgias no mesmo dia com o médico. Foram 10 horas no centro cirúrgico e 7 quilos de gordura retirados. Concluído o procedimento, ela demorou a ter alta. Passou 11 dias em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mais de dois meses internada.
“O lado direito paralisado e comecei a ter muita dificuldade com respiração. Recebi seis bolsas de sangue e fiquei muito mal, muito debilitada, muito fraca" disse.
Além disso, declarou que começou a "queimar". "Meu corpo começou a criar bolhas, começaram a aparecer umas secreções. Eu comecei a ficar totalmente queimada na barriga, nas pernas, nos braços, foi subindo para os seios e eu fiquei 20 dias ali, praticamente necrosando”, contou.
Indiciamento
Depois de sair do hospital, em abril deste ano, Letícia fez uma denúncia na Delegacia-Geral da Policia Civil de Santa Catarina. O inquérito, instaurado no mesmo mês, foi concluído na noite de segunda-feira (14).
A Polícia Civil ouviu pessoas da área técnica, concluindo que o prazo para a finalização de uma cirurgia de caráter estético tem uma duração limite menor do que ao qual Letícia foi submetida. A quantidade de gordura retirada também tem uma quantidade específica, explicou a polícia.
"Nesse caso, o delegado apurou que ocorreu uma passagem do que estava previsto pela doutrina, pela literatura, na questão de tempo e, também, na questão de gordura que foi aspirada da vítima", disse delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel.
A lesão corporal grave, prevista no artigo 129 do Código Penal, prevê pena de um a cinco anos de prisão em casos de condenação.