A identidade de um município é constituída pela sua cultura e pela sua história, elementos que o distinguem de outros municípios.

O pesquisador Marckson Theones Kielek, nasceu a 100 metros da igreja que virou cartão postal em Itá, no oeste catarinense. Perdeu o pai com apenas dois meses de idade, e foi logo após esta tragédia familiar, no início do ano de 1983, que sua mãe decidiu recomeçar a vida em Herval d´Oeste, e com seus três filhos pequenos, embarcou em uma viagem rumo ao Vale do Rio do Peixe.

Marckson iniciou sua história na terra da Larfiagem, esbarrando com a própria história do município, em um ano em que as águas que despencaram do céu não foram contidas pelo leito do Rio do Peixe, e violentamente invadiram e destruíram casas, e com sua fúria, acabaram derrubando também a histórica Ponte Emílio Baumgart, obra cuja construção representa um marco na engenharia mundial, e que viria futuramente a ser objeto de suas pesquisas.

Dona Iria, sua mãe, com os filhos para criar, não se deixou abater com o infortúnio que adentrou em sua vida. Com um terreno que conseguiu com o prefeito da época, e com algumas madeiras que comprou a prestação, construiu a nova morada da família.

Com a adversidade pontuando sua trajetória desde muito cedo, logo sentiu que precisava colaborar com as despesas familiares,  abdicou de sua infância, arregaçou as mangas, e partiu para a luta.

Os mesmos trilhos que rasgavam o coração da cidade entrelaçaram-se com sua história aos 10 anos de idade, quando passou a utilizá-los como caminho para vender pastéis e sonhos aos trabalhadores que descarregavam os vagões que traziam soja para abastecer a região. Encantava-se com o som emitido pelo apito, e com o seu jeito moleque pulava sobre as pequenas bolinhas que despencavam dos carros de transporte ferroviário, escorregava, desequilibrava-se, e caía, e estes momentos lúdicos sussurravam para o menino que precisava ser adulto, que ele ainda era um menino.

Após 2 anos transitando entre trilhos e vagões se deu conta que poderia aumentar seu rendimento lustrando sapatos, e abriu passagem ao seu novo empreendimento trocando vinte polimentos por sua primeira caixa de engraxate.

Para conseguir seu primeiro emprego com carteira assinada como empacotador do antigo Supermercado Super Vale, convenceu os dois sócios a lhe contratarem, contando sua história enquanto improvisava um sambinha com o mesmo pano que dava brilho aos seus sapatos.

Com 22 anos, o interesse em conhecer a fundo a história dos locais e acontecimentos que um dia confundiram-se com sua própria história, começou a pulsar em sua mente. Perguntas que rebentavam de todos os lados: Como era a rede ferroviária em seu início? Como foi o desembarque dos primeiros trabalhadores da estrada de ferro? Como foi idealizada? Como foi construída?

Questionamentos que foram se acumulando com outros questionamentos sobre a enchente de 1983, sobre a Ponte Emílio Baumgart, e tantas outras histórias que ajudam a formar a identidade do município de Herval d´Oeste, terra que só não o viu nascer, mas onde suas raízes se fixaram e cresceram.

Atualmente Marckson é Técnico em Logística, Pós-Graduado em Gestão da Qualidade, Técnico em Transação Imobiliária, Perito Avaliador Imobiliário, e trabalha como corretor de imóveis.

Hervalense de coração, apaixonado pelo solo onde cresceu, tem dedicado boa parte da sua vida em pesquisar sobre os acontecimentos que moldaram e construíram a história do município.

“A estrada de ferro, nos remete a conhecer a nossa história a fundo. Nossa origem, nossas cidades, nossa gente, tudo começou a se desenvolver através da estrada de ferro. Hoje tenho inúmeras fotos, vídeos, palestras nas escolas e fora da cidade, contando sobre a história da ferrovia.

Através da linha de ferro, eu parti para outra e mais surpreendente história da nossa terra: A ponte Emílio Baumgart, primeira ponte com recorde mundial, sem pilar no meio. A primeira ponte construída no processo de Cantilever. Para mim, uma das melhores histórias que temos em nosso município é sobre a ponte “velha”, assim denominada anos depois (após a morte do seu idealizador o Eng. Emílio Henrique Baumgart).”

Exímio pesquisador sobre a Ponte Emílio Baumgart, possui um artigo publicado na revista Concreto e Construções, de São Paulo, a maior publicação do segmento no país, e uma parceria com o Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro (IME), contando a história da ponte.

Possui vários vídeos no YouTube, sendo que um deles, “Ponte Emílio Baumgart da construção à queda em minutos’, tem mais de 232 mil visualizações. Também auxiliou em inúmeros Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), incluindo o de uma estudante de engenharia da Itália. Toda esta bagagem faz de Kielek o pesquisador com maior conhecimento sobre a histórica Ponte Emílio Baumgart.

“Não sou historiador e sim um pesquisador da nossa história (Rede Ferroviária, Enchente de 1983, entre outras, que temporalmente me tornei conhecedor). Tenho o privilégio em ser uma das poucas pessoas que se dedica, luta e não deixa a história morrer. Sempre fui uma pessoa ligada à nossa história, sempre fui apaixonado por nossas raízes, por nossa cultura, tradição e por onde tudo começou. A nossa história é rica em detalhes e única. É o nosso DNA.”

Marckson quer deixar todas as suas pesquisas registradas em um livro. Uma fonte de pesquisa para esta geração e para novas gerações que vierem.

“Hoje tenho um livro escrito sobre a nossa história, desde o início da estrada de ferro, construção das primeiras casas, construção da ponte, visita dos presidentes na cidade, enchentes, emancipação das cidades, queda da ponte e paralisação da ferrovia.

Porém, este livro está na gaveta, pois infelizmente, nós que buscamos mostrar a nossa história, não temos apoio para que essa história saia do papel e possa entrar nas escolas, nas casas, nas livrarias no nosso dia a dia. E não fique como apenas uma história que se perdeu com o tempo.”

Para conhecer o artigo do pesquisador Markson Kielek para a Revista e Construções Clique aqui!

Para assistir o vídeo “Ponte Emílio Baumgart da construção à queda em minutos” Clique aqui!

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Cultura em Cena é uma coluna escrita pelo produtor cultural Omar Dimbarre, para destacar o que se faz no meio cultural da região.