Jovem busca irmão adotado há 30 anos em Santa Catarina
Rapaz conta que mãe foi obrigada a deixar o filho para adoção.
“A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”. Se essa frase atribuída ao autor irlandês Óscar Wilde parecer um exagero, a história da família do jovem catarinense Lucas Maess Pomocne, de 27 anos, operador de máquinas, pode convencer do contrário. O morador de Rio Negrinho, no Norte catarinense, busca há 14 anos pelo irmão, registrado com o nome de Leandro Andrade Maess e colocado para adoção com dois meses de vida no início da década de 1990, em Joinville. Hoje, o irmão que Lucas quer conhecer pode ter entre 32 e 34 anos.
A busca incessante de Lucas pelo irmão é para aliviar a dor da mãe, Tereza Andrade Maess, de 49 anos, zeladora, que conta ter sido obrigada a deixar o filho para adoção.
Cerca de um ano e meio depois da entrega de Leandro para a adoção, Tereza se casou novamente. Desse relacionamento, nasceu Lucas e outras sete filhas, a mais velha com 31 anos. Apesar da alegria dessa grande família, a mãe nunca esqueceu do primeiro filho.
Contar a história para reencontrar Leandro
Lucas acredita que, ao contar sua história, Leandro possa ler e desconfiar que ele tem laços com a família, e assim, busque seus documentos na Justiça, conseguindo reencontrar o seu passado e os familiares biológicos.
“Eu ia pedir muitas desculpas a ele, por tê-lo dado por não ter condições. Queria abraçar e dizer que durante todos esses anos eu sofri procurando, sempre com esperança de encontra-lo, sempre pedindo a Deus”, conta a mãe, que afirma ter colocado o filho para adoção sob pressão de patrões.
Lucas conta que a família já tentou de todas as formas encontra-lo, mas que, juridicamente, não há nada que possa ser feito, por conta do processo de adoção ocorrer em segredo de Justiça. O rapaz foi ao Fórum da Comarca de Joinville, e durante o atendimento, descobriu que não poderia ter informações do irmão. Entretanto, Lucas teve a confirmação que, realmente, o Leandro tinha algum registro no fórum.
“Eles me retornaram dizendo que acharam os arquivos e os documentos de que a adoção foi feita, porém, não poderiam me passar nenhuma informação. Ali acabaram as minhas esperanças de encontrá-lo pelos meios legais. Eu procurei uma advogada e ela me disse que não poderia pegar o caso, porque, realmente, não tem como juiz permitir o acesso aos documentos“, explica o jovem.
A família também não encontrou documentos do filho no Cartório de Mafra, onde ele foi registrado. O operador de máquinas conseguiu que um número de telefone dele fosse anexado aos documentos. A esperança do jovem é que o irmão busque sobre seu passado no fórum e encontre o telefone para fazer contato.
A história de Tereza
Na adolescência, Tereza morava em Mafra, com um casal para qual trabalhava como empregada doméstica. Ela se envolveu com um rapaz e acabou engravidando. “Quando a criança nasceu, a família estava ajudando, mas aí começaram a implicar com o menino”, explica o filho Lucas.
A jovem havia sido adotada após a morte dos pais, mas começou a ser maltratada. Até que que começou a trabalhar na residência do casal em Joinville, onde conseguiu fugir da violência que sofria. Lucas explica que, no início, o casal era muito bom para ela, mas que a situação mudou após ela engravidar.
“Ela deu graças quando foi morar nessa casa, foi um ponto de escape, ela trabalhava na casa e morava com eles, só que começaram a implicar quando ela teve o bebê”, explica o filho. Tereza, por medo de voltar para a família que a maltratava, foi convencida que a melhor opção era deixar o filho Leandro para adoção.
A zeladora diz que tem uma memória muito ruim e por ter acontecido há mais de 30 anos, não se recorda de detalhes e datas. “Não lembro ano exato, nada, eu sou muito esquecida”, conta a mãe.
Mas algo não desapareceu da mente de Tereza, o dia que viu o filho ainda bebê pela última vez. Os patrões que a haviam acolhido, aproveitaram o trajeto de Mafra para o Litoral catarinense, com a justificativa de irem a uma praia, e no caminho, parraram em Joinville, onde ela teve que deixar o filho.
“Ele tinha uns 2 meses e eles estavam me levando junto para praia. Já haviam me dito que eu tinha que dar o meu bebê, fazendo chantagem“, lembra Tereza.
O pequeno Leandro, ainda recém-nascido, foi levado para um abrigo. Lucas conta que foi até a casa do casal para qual sua mãe trabalhava e descobriu que o irmão havia sido levado para o Lar Abdon Batista, em Joinville.
Lucas conta que chegou a ir até o abrigo, que até hoje acolhe crianças no município. Segundo o jovem, a administração do local informou que, infelizmente, não conseguiria ajudar na busca dele pelo irmão. O abrigo mudou de administração. Há 30 anos, era comandado por freiras, mas ocorreu uma mudança na gestão e todos os documentos, inclusive os que poderiam constar os dados de Leandro, foram encaminhados ao fórum.
Tereza conta que escutava do casal que a acolheu, que com um filho bebê não conseguiria arrumar trabalho e um casamento. “Eles sempre falando essas coisas para mim, daí me levaram no Fórum, e acabei concordando. A minha criança foi levada“, detalha.
O filho acredita que por ser muito jovem na época, a mãe foi convencida. “Eles falaram para ela entregar o filho, e como era uma menina jovem, sem muita maturidade, acabou entregando. Só que hoje, para minha mãe, o sonho dela é conhece-lo. Porque ela fez isso sob pressão na época“, explica o jovem.
“A gente não sabe se é desejo dele nos conhecer, a gente respeita isso também. Respeitamos a família que o adotou, mas o nosso sonho de conhecer ele não envolve nada. Queremos conhecer ele porque faz parte da nossa família, da nossa história, mas reconhecemos que ele tem uma outra família, que o adotou e que tem sua própria família“, afirma Lucas.