"Estar vivo é um milagre de Deus!" A história do enfermeiro que venceu o Covid após 40 dias internado

O relato de fé e dos desafios enfrentados por Roberto Antônio Vastres, 52 anos, que perdeu o pai enquanto estava internado.

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Fotos: Arquivo Pessoal
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Começo essa matéria com uma pergunta: Você acredita em milagres? A humanidade tem vivido dias tão difíceis em meio a uma pandemia que tem causado medo, aflições e grandes perdas, que fica difícil acreditar em dias melhores. Mas, ainda há esperança, aliás, ouso dizer que enquanto respirarmos vale a pena acreditar que milagres existem.

Dando continuidade à nossa série de reportagens contando a história de pessoas que sobreviveram a Covid-19, hoje teremos um relato de quem sentiu a morte bater a sua porta e que por um milagre de Deus à venceu:

Nosso personagem é Roberto Antônio Vastres, 52 anos, joaçabense, casado com Cecília, pai de Aline, de 9 anos e João Vitor, de 14. Durante mais de 33 anos trabalhou nos hospitais de Joaçaba cuidando de pessoas e foi exatamente no lugar onde ele se dedicou profissionalmente, que enfrentou o momento mais difícil da sua vida. Robertinho, como é carinhosamente conhecido, sentiu na pele o que é estar perto, muito perto da morte.

Fotos: Arquivo Pessoal
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Era setembro de 2020, quando uma gripe começou, acompanhada de uma tosse e sensação de febre. “Pensei que era apenas um resfriado porque todo dia trabalhando no hospital vinha para casa à noite, não tinha contato com ala covid, estava trabalhando na parte cirúrgica. Eu lembro que sentia febre, um negócio ruim, mas passou uns quatro dias e vi que a coisa estava diferente, eu não estava bem e decidi consultar, pois comecei a suspeitar que podia ser coronavírus”.

Após ser examinado naquela noite foi constatado que a saturação estava muito baixa e então Roberto recebeu medicação e foi para casa para tratar. “A tosse foi aumentando com os dias, muita ânsia de vômito, visão esfumaçada, eu sabia que não estava bem, então no dia seguinte era domingo, meus irmãos me levaram para o Hospital, eu estava muito ruim, nem lembro de sair de casa. Minha saturação estava em 68 e precisei ficar internado”, conta.

A confirmação de Covid-19 e o início da batalha

Na noite daquele mesmo dia, os sintomas se agravaram e Robertinho precisou ser levado às pressas para a UTI. Então a confirmação: estava infectado com o novo coronavírus.

“No momento que você entra lá, você sabe que não vai mais ver a sua família, vai ficar isolado, é uma sensação muito ruim. Eu fui para a UTI consciente do que estava acontecendo, mas tinha horas que eu apagava de tanta falta de ar que eu tinha. Queriam me intubar porque os médicos achavam que eu não ia aguentar. E eu ali ouvindo tudo, vendo aquela correria no hospital, e eu pensava: “Meu Deus do céu nunca passei por isso”. Comecei a lembrar dos meus filhos, minha esposa, minha casa, pensava no meu pai. É muito difícil estar lá”.

Mesmo sem conseguir falar e por horas tão fraco, Roberto lutava por sua vida, sabia que estava em meio a um pesadelo que parecia não ter fim e que a qualquer momento poderia morrer, pois sua frequência cardíaca subia em 180 a 200 e a saturação permanecia muito baixa. “Ouvi o doutor dizer que não podia me intubar, porque teria uma parada cardiorrespiratória na mesma hora. Eu ouvindo e pensando, se eu entrar no tubo eu morro, eu não vou sair dessa e eu sabia exatamente o que estava acontecendo porque já trabalhei na UTI”.

Era uma luta constante, os médicos tentaram tudo que podiam para salvar a vida do colega, mas ele não reagia, além de tudo, pelo fato de Roberto trabalhar muito tempo com antibióticos, seu corpo ficou resistente aos medicamentos e teve que esperar remédios de fora para ser tratado.

“O dia mais difícil foi receber a notícia que meu pai faleceu de Covid"

“Eu escutava o dr. falando: “o Roberto não melhora, ele só piora”. Os dias foram passando, eu apagava, de repente voltava e pensava onde estou Senhor? Acordava sempre com muita dor e escutava as meninas e percebia que estava no hospital, então voltava ao pesadelo".

Em meio a sua luta pela vida a notícia que deixou Roberto ainda mais abalado: a morte do Pai, Valdomiro Vastres. "O pior dia foi quando soube que meu pai faleceu de Covid. Piorei muito, meu chão saiu dos meus pés, meu emocional ficou muito abalado, só pensava na minha família, ficava muito preocupado e pensando em tudo, queria melhorar logo, sabia que precisava cuidar da minha mãe, queria sair daquele lugar”.

Consciente do que estava acontecendo e tendo certeza que estava perto da morte, Roberto viu suas colegas de hospital se despedirem. “Elas chegaram na UTI e disseram que era uma homenagem, elas tinham cartazes, bilhetes e chorando elas cantaram alguns louvores. Eu pensava, não é homenagem é uma despedida. Quando eu melhorei elas foram me ver no quarto e disseram Roberto nós fomos nos despedir porque tínhamos certeza que você não iria sair vivo”.

A oração que mudou tudo

“Um dia eu olhei para o monitor e vi tudo vermelho, pensei estou lascado, escutei o dr. dizendo o Roberto não vai passar dois dias. Lembro de pessoas internadas ao meu lado que morreram, toda a movimentação, os vultos e sabia que eles tinham partido, só tinha sobrado eu, só faltava eu morrer”.

Em uma dessas noites Roberto teve uma piora muito grande, ficou roxo e não voltava ao normal. “Pensei é agora, vou morrer, desta vez eu não passo. Eu tinha plena certeza que eu ia morrer e já sabia que iam me colocar em um saco e que ninguém iria me ver mais, então minha saída foi me agarrar com Deus, eu disse: “Senhor se eu tenho crédito contigo ainda, sempre fiz tua obra, sempre falei do teu amor, a salvação vem de ti, minha vida está nas tuas mãos. Clamo o teu sangue, me ajuda”.

“Deus ouviu minha oração”

Deste dia em diante um avivamento encheu o coração de Roberto que passou a ter uma melhora muito lenta, mas ele tinha certeza que somente Deus poderia tirar ele daquele lugar e que estava ouvindo sua oração, então no seu inconsciente continuou clamando por sua vida.

O equilíbrio emocional é determinante para um paciente com Covid e a fé fez a diferença na vida dele. “Chega um momento é só você e Deus. Tem horas na UTI que você fica lá sozinho, sente medo. Muitas pessoas entraram no hospital melhor que eu e não sobreviveram, então não tem como dizer que não foi Deus na minha vida. Muitas pessoas oraram pela minha vida e não tem outra explicação, foi Deus quem me tirou daquele hospital. Os médicos não sabiam mais o que fazer comigo”.

Fotos: Arquivo Pessoal
Fotos: Arquivo Pessoal

A vitória do Covid-19

Ao todo foram 40 dias de hospital, destes 15 dias de UTI que pareciam uma vida, sem ver ninguém, sem saber quando era dia ou noite. Mesmo estando no quarto, o quadro de Robertinho era muito delicado, porque sua saturação ainda baixava muito, mal podia se mexer. “O doutor me explicou que meu pulmão colou, por isso demorei para me recuperar e além de tudo, quando estava quase perto de ganhar alta tive problema no rim e por conta disso, tive que ficar mais dez dias no hospital. Parece uma mentira ainda que passei por tudo isso e hoje estou aqui”.

Após voltar para casa Roberto ainda precisou percorrer um longo percurso cuidando da sua saúde, fazendo fisioterapia e aos poucos ir voltando a sua vida. “Eu passava muito mal em casa, até para tomar banho minha saturação caia, não conseguia descer e subir escadas, fazia uso de bombinha, minha frequência cardíaca chegava a 150 mesmo parado. Eu não desejo o que passei para ninguém. Foi muito difícil”.

O que mudou após Covid?

Roberto tem plena convicção de que estar vivo hoje é um milagre e sua vida mudou em todos os sentidos. “Sou um novo homem, nasci de novo e agradeço a Deus todos os dias. Eu disse que se eu saísse dessa, iria me dedicar à minha família, estou aposentado e agora aproveitando a vida com eles. Tenho saudade do hospital, dos meus pacientes, mas agora é uma nova vida, dedicada para Deus e minha família”.

“Meu relacionamento com Deus sempre foi forte, mas hoje é diferente, estou ainda mais ligado a Ele, tenho orado muito e sinto a presença Dele comigo, fico emocionado. Tenho prazer nas coisas de Deus”.

Palavra de esperança

“Todo mundo está passando por esta pandemia, um vírus que ninguém vê, muitas pessoas estão com medo e precisamos nos apegar em Deus. Tenham fé, não tenha medo, busque ao Senhor. Faça sua parte, tome os cuidados, mas esteja em Deus, Ele é o nosso consolo. Ele é o Deus do impossível que tira o homem de onde ninguém pode tirar, foi o que aconteceu comigo, os médicos não sabiam mais o que fazer, mas eu tenho certeza absoluta que foi Deus que me fez nascer de novo, então creia no Deus que fez esse milagre na minha vida”, finaliza.

Fonte:

Eliete Squerzzato Bechi - Portal Éder Luiz

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